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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Saudade

Explicar o que é saudade é a coisa mais difícil do mundo.



Eu era muito desligado, não entendia porque ela me cobrava tanto. Eu via muitos filmes de guerra, ela lia livros demais. Eu queria pouca coisa pra viver, ela queria ganhar o mundo. Eu era comum, ela era fascinantemente louca. Nós estávamos tentando nos encaixar.
Eu nunca percebi que ela o quanto ela queria atenção. Eu nunca a entendi. Mas amei tudo aquilo que era ela. Nunca foi o suficiente.

Sempre disse que ela era maluca, que lia demais, que sonhava demais, que planejava o futuro demais. Mas nunca percebi, lá no fundo, que ela estava doente e que precisava de ajuda. Culpei-a por tudo. Sobre os ombros do meu amor, joguei toda a dor da minha vida que, como essa nossa relação, também estava fracassada. 

Meu Deus, por que eu não percebi que ela precisava de mim? Ninguém tinha culpa de nada. Mas ela achava que tinha, sim. Ela achava que o Universo não gostava mais dela. E foi embora. Ela me avisou que ia, mas eu não acreditei nela.

Enquanto na Tv passava um programa de esporte, minha mãe terminava o almoço, meu pai tomava banho e o relógio marcava 10h45. O telefone tocou. Sozinho na sala, quem mais poderia atender ao não ser eu mesmo?
- Alô?
- A minha prima, a sua namorada... Ela... é melhor você vir logo!
- Ela o quê? Desligaram na minha cara.

Saí correndo, toquei a campainha. Olhos inchados me receberam. Ela estava sorrindo, vestida de branco, no chão da cozinha. Foi com gás. Alguém disse. Minha cabeça girava. Amor, eu devia ter percebido antes... A tia dela estava me olhando com pena. Ela sempre deu sinais, mas eu não vi, eu não vi! Eu podia ter evitado! Tiraram meu corpo pesado de cima dela.

Peguei minha caixa vermelha onde ela guardava tudo sobre mim. Reli todas as cartas dela, ela escrevia tanto! E quando retirei meus bilhetes da caixa, percebi que eu tinha muito mais para dizer a ela do que aquelas poucas palavras que a escrevi.



A ausência dela foi abrindo um buraco no meu peito. Os dias que se seguiram foram vazios. Só fico feliz quando durmo, sempre a vejo nos meus sonhos. Assim como ela, insegura, sempre perguntava em vida, no sonho também me diz:

Você vai sentir saudade de mim?
E eu respondo:

Eu sinto, eu respiro, eu sou todo uma grande saudade de você