Image Map

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os outros são os outros e só


Estava irritada, o tiozinho da poltrona ao lado não fechava a boca. Falta de respeito, né, moço? A viagem já não é lá muito confortável e com barulho que nem te deixa ler, o que fazer? Daí coloquei o fone. Apertei o play. Na sorte caiu no Leoni. E os outros que era para cumprir seu papel de música e me acalmar antes que eu gritasse com o tio da poltrona 45, fez tudo errado.

Primeiro foi a melodia. Alguns segundos e voltei aos meus 16. Atrasada, com fome, correndo pra aula do cursinho. Depois veio o primeiro verso: “já conheci muita gente, gostei de alguns garotos”. Voltei ao ônibus, abri a cortina, não vi a paisagem, vi muita gente... E me vi, ali sentada.

O Leoni insistia:



A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender
Se foi ele quem compôs os outros estava certo de que muita gente poderia o entender. Feito eu, menos irritada, menos nervosa, só cheia de retrospectivas na cabeça. E foi nessa hora que eu lembrei da aula de quarta.

Não sou dedicada à filosofia, nem li Schopenhauer, mas meu Professor de Literatura leu e, na última aula, ele disse que pro tal filósofo, existe algo em nós mesmos que não podemos controlar: a vontade. E a vontade nos leva ao sofrimento. Esse cara leu sobre budismo certamente. Sobre budismo eu li. É maravilhoso pensar na vida sem sofrimento não dando importância a nossa própria vontade, receita simples, né? Mas não é. Se controlar a vontade de comer um doce a cada meia hora já é difícil, controlar os pensamentos que fluem naturalmente e não engordam é beeem pior. 

E tudo faz pensar e lembrar.

Estava tocando os outros. Eu queria perguntar ao Schopenhauer se não controlar as próprias vontades incluía não controlar a própria memória. E, sozinha, percebi que não tenho controle do que lembro ou não. E que lembrar é ressentir. Se na razão nos parece que não há vontade de mexer em certas lembranças, no desejo verdadeiro está tudo ali, intacto e fresco, brincando de esconde-esconde com a nossa resistência.

Aos 16 eu fazia poemas dos amores que eu imaginava, dos livros que eu lia, das canções. Aos 23 eu só escrevo sobre o que vi, sobre o que aprendi e, principalmente, sobre o que senti. E tenho escrito bem menos por isso.

Mas o pior não é não controlar o que sinto, o meu querer. A pior parte é que a gente, antes de saber que não se controla, sabe que não tem poder sobre o sentimento de ninguém, e aí, o Leoni chega no refrão, e diz assim: os outros são os outros e só... 


Já conheci muita gente
Gostei de alguns garotos
Mas depois de você
Os outros são os outros

Ninguém pode acreditar
Na gente separado
Eu tenho mil amigos, mas você foi
O meu melhor namorado

Procuro evitar comparações
Entre flores e declarações
Eu tento te esquecer

A minha vida continua
Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode me entender

Depois de você
Os outros são os outros e só

São tantas noites em restaurantes
Amores sem ciúmes
Eu sei bem mais do que antes
Sobre mãos, bocas e perfumes

Eu não consigo achar normal
Meninas do seu lado
Eu sei que não merecem
Mais que um cinema
Com meu melhor namorado

Link: http://www.vagalume.com.br/leoni/os-outros.html#ixzz30thjfMt8

***Especialmente hoje resolvi escrever uma crônica, perdi o prazo para enviar meus poeminhas “meia boca” para a Semana de Letras da Unifesp e mesmo assim quis escrever (Não que eu esteja super decepcionada por ser relapsa e ter me esquecido de enviar um texto, porque ano passado eu fiquei em 3º lugar no concurso de poesia e o carinha SUMIU com o meu prêmio! URGHH).