Estava aqui, sozinha, querendo o colo da minha mãe quando me
recordei do dia em que fui visitar a igreja de minha tia e meu pai passou o recado
pela metade para mamãe. Ela, entendendo apenas que eu tinha ido à igreja de
sempre, esperou a minha chegada no horário de sempre, mas eu não cheguei. Com o
coração aflito ela foi até a igrejinha perto de casa procurar por mim. Mas, na
igreja, ninguém sabia de sua filha. Ela voltou pra casa chorando, achando que
tinha me perdido pra alguma dessas crueldades do mundo. E quando ela,
finalmente, chegou e me viu no portão falando com minha tia, disse: Menina, eu
só não vou te matar porque estou muito feliz por te ver!
Ah, amor de mãe é de Deus. Até os ateus concordam comigo.
Outro dia ouvi uma música da Gal Costa que dizia assim Que dor no coração/Cidades, mares,povo, rio/Ninguém me tem amor. E faz todo sentido. O amor de mãe é tão grande
que quando ela não estiver mais conosco a solidão que se sentirá será esmagadora. Deus me livre!
Eu só não entendo o porquê de sermos
tão bestas e não aproveitarmos esse carinho delas. Na verdade, até entendo a
nossa besteira. É que elas são chatas às vezes, elas implicam muito, elas
gostam de Leonardo e Sidney Magal, elas ligam 50 vezes seguidas para nossos
celulares sem cansarem seus dedinhos, elas fariam um outdoor com a nossa foto de
bebê (nu na banheira) se pudessem, todos esses são fatos inegáveis. E nos
apegamos a fatos demais! Quem se importa de ser acordado 7h da matina no final
de semana pelos berros da mamãe cantando alguma canção brega? Parece insuportável uma situação dessas, mas
insuportável é uma palavra que só terá significado para o filho quando este não
tiver mais aquela vozinha estridente cantarolando sábado de manhã. A saudade,
ah, ela é que será insuportável, sempre.
Sabe, eu não vivi quase nada da
vida ainda. Mas já me arrependo de algumas coisinhas. Coisinhas pequenas e
bobas que disse ou que fiz e que sei que magoaram a minha mãe. Porque mãe não
merece sentir dor nenhuma. Muito menos uma dor causada pelo próprio filho. Mãe é
uma pessoa normal para o mundo, mas para o filho a mãe é a certeza de que ele
não está sozinho nessa vida de meu deus.
Ah mãe! Eu acredito muito que os
textos podem sobreviver ao tempo. E foi por isso que te escrevi essas palavras.
Porque um dia, quando nem pó existir de mim, ainda existirão essas palavras. E
é através delas que você nunca vai me perder, mãe. E nem eu te perderei nunca.