Antes de começar a resenha
desse livro preciso avisar que se você viu o filme baseado no livro esqueça
absolutamente tudo que viu nele, pois o filme nem de longe consegue captar a
grandeza e a inteligência da obra de Pullman. Lembro que quando vi o filme pela
primeira vez numa noite sem sono na qual ele estava passando na televisão achei
bastante sem graça e confuso, mas por ouvir muitos elogios a respeito do livro
e pessoas dizendo que ele era infinitamente mais legal que o filme resolvi dar
uma chance e fico feliz de dizer que o livro da “Bússola de ouro” é realmente
incrível.
Na história criada por Philip Pullman temos uma mistura do mundo em que conhecemos com um mundo de fantasia, em que todos os humanos possuem um dimon que é como se fosse uma representação em forma de animal da essência da pessoa. Os dimons das crianças podem mudar a sua forma a vontade, porém quando alguém chega entre a puberdade e a fase adulta o seu dimon passa a assumir uma forma única que está relacionada a personalidade da pessoa. Além disso também temos a presença de outros elementos fantasiosos na obra como as feiticeiras, os ursos de armadura, a sociedade dos gípcios e etc. ao mesmo tempo que temos também a presença da ciência em contraste com a igreja que possui um grande poder na obra.
No meio disso tudo conhecemos Lyra, uma menina
de 12 anos que vive na faculdade Jordan em Oxford junto do seu tio Lorde Asriel
um homem extremamente rígido e que chega a colocar medo nas pessoas ao seu
redor por conta da sua postura que demonstra poder. Já Lyra é uma criança
comum, que costuma passar a maior parte do seu tempo brincando com os garotos
filhos dos serviçais da faculdade como qualquer outra criança, mas algo começa
a assustar as pessoas que vivem por ali e principalmente as crianças quando
muitas delas começam a desaparecer misteriosamente sem que ninguém saiba o que
acontece com elas. Todos dizem que as crianças são levadas por um grupo chamado
Gobblers que as levam para fazer algo que ninguém sabe o que é. E é quando
Roger o amigo de Lyra é levado pelos Gobbles que ela vai fazer de tudo parar
tentar encontrar o seu amigo e vai acabar descobrindo também que é capaz de
desvendar os códigos do aletiômetro, um tipo de bússola que é capaz de dizer a
verdade.
Apesar do livro ser voltado ao publico
infantil temos diversas referencias filosóficas e religiosas muito bem
colocadas pelo autor que consegue transformar o livro em muito mais do que uma
história de fantasia, mas também um
livro inteligente repleto de referencias. Antes de ler a obra já tinha visto
alguns comentários de pessoas dizendo que assim como “As crônicas de Nárnia” é
uma obra cristã “A bússola de ouro” é uma obra mais ateia. Não sei se Philip
Pullman é ateu ou não, mas eu já tive uma visão diferente do livro, acredito
que as criticas sutis colocadas pelo autor na história são muito mais
referentes ao poder da igreja em si e o medo que ela costuma ter de avanços que
podem colocar a religião em xeque do que a entidade Deus em si. Ao mesmo tempo
que o autor constrói diversos elementos da obra baseado de forma muito
inteligente em passagens da bíblia, fazendo com que o livro se torne tão
interessante e envolvente.
Recomendo a bússola de ouro independentemente
da religião que a pessoa tiver visto que o autor aborda todas as questões do
livro de forma muito inteligente e respeitosa sem ofender nenhuma crença, além
de escrever com uma narrativa muito bem construída fazendo com que em nenhum
momento o livro se torne cansativo e sempre instigando o leitor a querer saber
mais do que vai acontecer. Se você quer um livro de fantasia que seja muito
mais do que criaturas fantásticas, a “Bússola de ouro” primeiro livro da
trilogia “Fronteiras do universo” é com certeza a melhor escolha, um livro que
com certeza vai agradar até o mais crítico dos leitores e aqueles que não
gostam tanto assim de fantasia.