Odeio as palavras tanto quanto as amo. Odeio o fato
delas sempre escorregarem das minhas mãos e nunca se moldarem no texto
exatamente da forma que eu quero. Odeio o fato de nunca conseguir encaixar as
frases da forma que me agradaria mais, quanto mais tento uni-las mais elas
escapam e voam em um caos que para mim parece quase infinito. Odeio o modo como
nunca sei atar os nós do texto da forma certa, nenhum adjunto, vírgulas,
pontos, anáforas, elipses e companhia parecem ter harmonia naquilo que escrevo.
Odeio o fato de que nunca consigo sentir que me
expressei como queria num texto. Odeio principalmente a
ideia de que neste exato momento você está lendo este texto que não está
moldado da forma que me deixaria satisfeita. Só de pensar que agora uma leitura
deste texto feita por alguém que não seja eu mesma consegue encontrar mais
problemas que fogem aos meus olhos me perturba, sinto vontade de prender todas
as palavras até domesticá-las, quem sabe domá-las como se doma um leão.
Sei que nesse exato momento alguém está achando uma
vírgula fora do lugar, um acento que falta, algum problema de ambiguidade
talvez, algum conceito mal colocado, orações longas demais ou até mesmo o
leitor ache este texto chato e clichê. Odeio o fato de que até chegar aqui
cortei parágrafos, risquei frases, substitui palavras e reli o que já tinha
escrito.
Mas amo as palavras como jamais poderia amar alguma
outra coisa que me dê tanta dor de cabeça. Dizem que criar filhos traz algumas
dores de cabeça, então talvez as palavras sejam como filhos. Por mais que
queiramos moldá-las ao nosso próprio modo elas sempre acabam assumindo sua
própria forma em um texto. Trabalhamos duro com elas para sempre fazer com que
o texto vá para o melhor caminho, e no final podemos ser surpreendidos por algo
maravilhoso. Um texto também sempre terá a marca do estilo de quem o escreveu,
por mais que tentamos fazer algo soar neutro nossa marca pessoal sempre será
possível de ser notada, assim como os filhos no final sempre acabam lembrando
de alguma forma os seus pais.
Amo as palavras porque elas são transformadoras, podem
fazer total diferença no mundo e somos capazes de construir nos mesmos e a
sociedade que nos cerca através delas. Porém se for para falar de ódio vou
dizer que no fundo odeio como as palavras construíram este texto. Odeio o fato
de que sinto que há muitas coisas que não expressei nele ou o que foi dito não
foi feito da maneira que eu queria. Odeio a ideia de que talvez este texto seja
bastante clichê e mal escrito. Por fim se for para falar de amor às palavras
vou dizer que amo este texto porque talvez ele seja o melhor pior texto que já
escrevi.